Enquanto Garotinho fica no discurso, a violência contra as mulheres só aumenta em Campos


    No início desta semana, o deputado Antony Garotinho fez um discurso no intuito de, segundo suas palavras, conclamar a sociedade a combater a corrupção. Contudo, enquanto o deputado fica no discurso, mais uma mulher trabalhadora é morta em Campos dos Goytacazes, cidade que, mesmo sendo governada por uma mulher, só vê situação das mulheres piorar.
     Aparentemente, as situações não possuem conexão, mas elas estão amplamente interligadas. Pois o ato demagógico de discursar contra a corrupção vindo destes personagens não condiz nem um pouco com a realidade. É só observar o grupo político que se mantém no poder em meio a um mar de lama, denúncias e ações na justiça devido aos fortes indícios de corrupção.
     E, enquanto julgamentos morais e diversas acusações são vociferadas em blogs e rádios, a violência contra a mulher trabalhadora cresce cada vez mais no município sem que uma medida para parar esta situação seja tomada. Por exemplo, segunda-feira (22/04) o corpo de uma mulher foi encontrado por crianças em um valão do bairro Novo Jockey. A polícia trabalha com hipótese de que a vítima tenha sido violentada sexualmente, uma vez que foi encontrado um pedaço de madeira nas partes íntimas dela, sem sutiã e com a blusa enrolada na cabeça. A calcinha dela foi encontrada no tornozelo. Na madrugada do último domingo (21/04), a manicure Ana Paula Pereira Monteiro, mãe de dois filhos menores, foi assassinada com dois tiros em sua residência, no distrito de Travessão. Semana passada, uma mulher grávida de oito meses foi brutalmente agredida. Tendo seu próprio marido como algoz, a jovem de 19 anos levou socos e chutes até ter que ser socorrida e levada para o Hospital Plantadores de Cana.
     Estes são apenas os casos que vêm à tona, pois como não há delegacia da mulher (de competência do governo do Estado) e nem um Centro de Referência de atendimento exclusivo à mulher (de competência do município) fica difícil saber qual a real dimensão do problema. O que os veículos de comunicação divulgam é apenas a ponta do iceberg. 
     É muito fácil, do alto do púlpito no parlamento, em blogs e rádios, falar em combate à corrupção. No entanto, este momento é importante, pois já que o deputado está disposto a falar sobre o tema, propomos um desafio: que o governo de Campos reveja todas as licitações, prestações de serviços por empreiteiras e grupos empresariais e exponham, detalhadamente, o valor de mercado e o valor pago pela prefeitura de item por item. 
     Além disso, queremos ver se o governo municipal é capaz de negociar, junto ao governo do Estado, a delegacia da mulher e que esta possa ter funcionários qualificados em atender e aconselhar as vítimas que prestam queixas. Desafiamos a tornarem o Centro de Referência em unidade de atendimento exclusivo às mulheres, assim, deixando de atender as vítimas na perspectiva da reconciliação familiar, pois, tendo o caso da jovem grávida espancada por seu marido como exemplo, a mulher tem seu risco de morte aumentado caso os órgãos competentes tentem a reconciliação. Também gostaríamos de saber se estão dispostos a ampliar os recursos para que o Centro de Referência possa atuar adequadamente e, além disso, tomar medidas e realizar campanhas contra a violência à mulher.
     Muitas cidades com orçamento anual muito inferior ao de Campos não se encontram em situação de tamanho descaso em tantas áreas. Quando a cidade apresenta o pior Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) do estado do Rio e ausência de um Centro de Referência exclusivo para a mulher, não há espaço para a alegação de falta de verba. Não esqueçam, queremos ver se o governo é realmente capaz de investir (e que seja com transparência) em educação, segurança pública, saúde e moradia. Que reativem as escolas do campo fechadas no governo Rosinha Garotinho, assim como ampliem o número destas unidades escolares. Desafiamos a NÃO iniciarem os anos letivos com milhares de alunos sem ter onde estudar, e que efetivamente criem creches de qualidade para que as mulheres trabalhadoras possam ter onde deixar seus filhos ao irem trabalhar.
     Sem pelo menos isto, não venham com esse discurso de combate à corrupção. Isto é demagogia, para não dizer descaramento!