Na noite de 25/01 perto da meia-noite Cícero
Guedes, uma das principais lideranças do MST no norte fluminense, foi
assassinado com 10 tiros em Campos dos Goytacazes. Todos indícios apontam para
uma covarde emboscada do latifúndio campista, uma vez que seus pertences
estavam junto ao corpo.
Cícero era um lutador aguerrido que não media
esforços em construir unidade dos trabalhadores do campo e da cidade, bem como
com a juventude. Defensor da prática da agroecologia era uma referência para
estudantes e feirantes com a produção de seus alimentos. Nas principais lutas
em nossa cidade, fossem do MST ou dos estudantes, lá estava Cícero levando sua
solidariedade, militância e liderança. Foi assim na marcha em defesa da
aplicação de 10% do PIB para a educação pública, onde liderando uma caravana do
MST se somou aos estudantes e servidores das instituições de ensino de Campos.
Quem teve o privilégio de conviver com Cícero, como
a professora Juliana Tavares do IFF, dá seu depoimento destacando a importância
de sua militância: “Conheci o Cícero na feirinha da roça do MST e me lembro que
fiquei impressionada com aquela figura tão imponente e ao mesmo tempo tão doce.
Pude conhecê-lo melhor quando entrei no movimento estudantil da UENF. O Cícero
estava sempre presente nos apoiando nas reuniões e manifestações, como a que
fizemos na BR101. Quando eu entrei pro IFF também pude contar com seu apoio em
uma manifestação pela educação”.
Mas, o covarde assassinato de Cícero não ficará
impune. Mais esse crime é fruto da política de beneficiamento aos
latifundiários e grandes empresas de nosso país. Quando os militantes dos
movimentos sociais não são assassinados covardemente, são perseguidos e
criminalizados como aconteceu há um ano na comunidade do Pinheirinho em São
José dos Campos/SP ou com os operários da construção da usina de Belo Monte no
Pará, presos por reivindicar melhores salários e condições de trabalho mais
dignas. É preciso que se diga que a morte de Cícero não é um fato isolado. Cada
vez mais observamos uma crescente onda de ataques aos que lutam, e esses
ataques tem a conivência dos governos federal, estadual e municipal.
Em Campos dos Goytacazes é recorrente a denúncia de
trabalho escravo, de exploração do trabalho infantil e a prefeitura dos
Garotinhos nada faz, sendo conivente com essa prática dos latifundiários. É
nítido que também a falta de segurança no campo é um estímulo a mais para os
coronéis contratem seus matadores de aluguel. Também é preciso responsabilizar
o governo do PT que reverteu a desapropriação das terras onde Cícero foi
assassinado e devolveu aos antigos proprietários.
As terras da Usina Cambayba, onde se localiza o
assentamento Oziel Alvez, de onde saia Cícero em direção a sua residência no
assentamento Zumbi dos Palmares, também tem sua história manchada com o sangue
dos militantes que lutaram contra a ditadura militar. Recentemente foi
divulgados que os fornos de Cambahyba foram usados para incinerar corpos
de 10 militantes políticos durante a ditadura militar brasileira. A confissão
do ex-delegado do Departamento de Ordem Política e Social (Dops), Cláudio
Guerra, consta no livro “Memórias da uma guerra suja” e foi divulgada por toda
a imprensa. Como se pode perceber existem motivos de sobra para que o
governo Dilma reveja a situação dessas terras e garanta que justiça federal
desaproprie-as para que sejam garantidas a subsistência de centenas de famílias
que produzem.
O PSTU se solidariza com os familiares de Cícero e
com os companheiros do MST se colocando inteiramente a disposição para que mais
esse crime não fique impune. A luta de Cícero é a luta de todo militante e ativista
campista e continuará viva para continuarmos nossa marcha contra os
latifundiários e burgueses de nossa cidade. Conclamamos todos os ativistas de
nossa cidade a prestar sua última homenagem a esse bravo lutador amanhã a
partir das 9h nas capelas do Campo da Paz, o sepultamento ocorre as 13h. CÍCERO
PRESENTE!