Por
GILCÉLIO NASCIMENTO
Professor Instituto Federal Fluminense e militante
do PSTU
GUSTAVO SIQUEIRA
Direção municipal do PSTU
No dia de hoje, 31 de maio de 2013, em
várias partes do mundo os movimentos sindical, estudantil e popular realizam o “Dia
Global de Solidariedade com a Revolução Síria”. Nós do PSTU Campos/RJ queremos
deixar nossa contribuição com esse dia através da elaboração deste texto que
tem como objetivo esclarecer alguns aspectos deste processo revolucionário, bem
como colaborar, através da exposição de nossa política, com o entendimento do
que vem acontecendo na Síria, em particular, e no mundo árabe, em geral.
O
contexto global e regional das revoluções árabes
As revoluções no mundo árabe tiveram seu
inicio em dezembro 2010, a partir da Tunísia, quando o jovem Mohamed Bouazizi
tomou a atitude extrema, depois de ser agredido pela polícia e ter seu carrinho
de frutas confiscado pela polícia, de atear fogo no próprio corpo. A partir
deste momento vários países árabes viram suas populações se levantarem contra
as condições miseráveis de vida e da opressão imposta por seus déspotas. São ditaduras
que duraram ou duram mais de 40 anos, com forte repreensão, e com retirada
total dos direitos, principalmente do direito a vida. A revolução no mundo árabe tem por objetivo
não apenas tirar o poder desses ditadores, mas principalmente uma luta contra o
imperialismo e a ditadura do Capital.
A chamada primavera árabe não pode ser
compreendida fora de um marco global, onde o processo da luta de classes do
leste europeu e a derrubada do stalinismo rearranjam a organização da classe
trabalhadora no mundo árabe. Por um lado, a crise histórica do stalinismo
permitiu avançar na construção de processos revolucionários, bem como na tarefa
de buscar uma direção revolucionária no mundo árabe. De outro lado, a
restauração capitalista em vários países, em especial no leste europeu, fez
surgir um vendaval oportunista que varreu a esquerda mundial para a capitulação
aos nacionalismos burgueses.
A primavera árabe está situada no mesmo
contexto revolucionário mundial que impulsionou levantes na América Latina nos
anos 2000 e na II Intifada Palestina. O imperialismo, principalmente americano,
na tentativa de frear o desencadeamento de um processo mais abrangente partiu
para a ofensiva. O então presidente do EUA, George W. Bush, com o pretexto de
combate ao terrorismo, ocupa os territórios do Afeganistão e do Iraque. Essas duas
guerras, que se mostraram invencíveis, abalaram a imagem do governo americano
tanto interna como externamente. O objetivo real da ocupação, explorar os
recursos naturais, em especial o petróleo da região, para dinamizar a economia e
a produção dos países centrais ao não ser atingido desencadeou uma profunda
crise econômica mundial.
Além da profunda desmoralização
americana com os fracassos no Afeganistão e no Iraque, também seu principal ponto
de apoio na região, o estado sionista de Israel, sofreu derrotas
significativas: a derrota militar para o Hezbollah no sul do Líbano em 2006; a
manutenção do Hamas no poder na Faixa de Gaza, mesmo com forte ofensiva militar
sobre a região palestina, além da condenação da opinião pública mundial ao
ataque da Frotilha da Paz em 2010.
Conforme Josef Weil (2011, p. 9), “a
combinação entre a resistência à ocupação imperialista (inclusive a luta
palestina contra Israel), e as lutas da classe operária em diversos países,
contra as ditaduras e as condições de vida nos mesmos, são o contexto mais
estrutural para poder compreender a explosão da revolução árabe”. Ou seja,
quando estoura a crise mundial o mundo árabe vive de conjunto um processo avançado
de recolonização, marcado pela capitulação da burguesia nacionalista ao imperialismo,
que com sua subserviência cria contradições estruturais que então desencadeiam
as revoluções árabes.
O grau de submissão e de recolonização
dos países árabes sinalizam não um atraso, mas, o estágio mais avançado do
capitalismo. A fórmula que adiciona o aumento do desemprego, o aumento dos
preços dos alimentos e dos bens de consumo, com regimes ditatoriais, que se
mantém a décadas no poder e sustentam a desigualdade e a opressão, resulta na
indignação e revolta das massas trabalhadoras em praticamente todo mundo árabe.
Essa soma não permite aos regimes enquadrarem institucionalmente os movimentos
e o descontentamento.
A
atual situação dos países árabes que passaram ou passam por processos
revolucionários
Passados dois anos, encontramos cenários
distintos nos países em que eclodiu a revolução. A Síria se encontra no
processo embrionário da revolução, com alguns avanços nas lutas dos
revolucionários, porém o apoio tanto econômico quanto político que Bashar Al
Assad recebe das nações imperialistas e dos governos castro-chavistas, impedem
o avanço decisivo da revolução. No Egito com a derrubada de Mubarak nada mudou,
seu sucessor Mohamed Morsi, comete as mesmas atrocidades. Em suma, a deposição
de Mubarak foi um primeiro passo muito importante na revolução egípcia,
entretanto não representou a queda do regime político, que continua pautado nos
enormes privilégios econômicos da alta cúpula militar. No tocante aos avanços
podemos ressaltar que no atual contexto da revolução no Egito, o nível de
sindicalização e de organização do povo impede uma repressão maciça e aberta
como no governo de Mubarak.
Na Líbia a situação revolucionária foi a
mais profunda e complexa de toda a região, as massas com sua mobilização e luta
armada destruíram o regime despótico de Kadafi. Podemos dizer que a revolução
Líbia foi uma revolução “socialista inconsciente”, termo utilizado por Ronald
León Núñez (2012). No bojo da revolução, os trabalhadores, destruíram o
alicerce fundamental do regime e do estado burguês, seu aparelho de repreensão:
as Forças Armadas. As massas tiveram tanta força e poder de mudança, que o
imperialismo teve que intervir diretamente para garantir os seus interesses
regionais. Dessa forma, os Estados Unidos e o imperialismo europeu,
intermediados pela ONU e OTAN, interviram militarmente para derrubar Kadafi. Assim,
poderia minar e destruir as revoluções populares. Nesse contexto, o
imperialismo através do Conselho Nacional de Transição (CNT), tratou de
reconstruir as novas Forças Armadas e o Estado burguês. A ausência de uma
direção revolucionária que oriente a ação do povo, direcionando a revolução no
sentido da tomada do poder político e instauração de um governo para os trabalhadores,
tem gerado uma fragmentação das milícias, e o governo burguês e imperialista
continua avançando. Dentre os avanços das nações imperialistas podemos
destacar: a) muitos líderes de milícias foram incorporados e cooptados para o
governo; b) muitas milícias foram incorporadas
as novas forças armadas e ao Estado que os imperialistas tentam
reconstruir e c) a realização das eleições legislativas com participação popular
e apoiada pelas milícias.
Síria
o exemplo de determinação revolucionária de um povo
A revolução síria se insere no mesmo
contexto das outras revoluções árabes: condições de vida miseráveis, ditaduras
opressoras e recolonização imperialista. No entanto, mesmo que os processos
revolucionários não tenham avançado ao socialismo no Egito, mesmo que a revolução
socialista tenha se dado de modo “inconsciente” na Líbia, atualmente é na Síria
em que o processo revolucionário se apresenta mais avançado.
Infelizmente, grande parte da esquerda
mundial, e brasileira, principalmente aquela ligada ao castro-chavismo tem
condenado a luta do povo sírio e descaracterizado o caráter revolucionário dos
rebeldes. Como já dissemos as revoluções árabes são uma combinação de ditaduras
opressivas com condições miseráveis de vida da população, e que com a crise
mundial só fizeram aumentar o desemprego e os preços nos países árabes. Na
Síria não é diferente. A guerra civil instaurada no país de 2011 é o resultado
desta combinação que levou a população síria a lutar contra o regime assassino
de Bashar Al Assad.
No entanto a revolução síria vem
sofrendo na última semana fortes golpes de Assad e seus aliados. Primeiro foi o
Hezbollah que anunciou sua adesão com militantes armados ao lado de Assad e em
segundo a Rússia que anunciou a confirmação da venda de mísseis S-300 para o
exército sírio. A adesão do Hezbollah, principalmente na região Quseir na
fronteira com o Líbano é uma clara manifestação que a força da revolução atinja
aquele país, base do grupo xiita. Por outro lado, Israel teme o armamento de
seu principal inimigo o Hezbollah, mas, também tem a preocupação que luta do
povo sírio inspire uma nova Intifada na Palestina.
É evidente que o imperialismo quer uma
saída negociada, preferencialmente com a renúncia de Bashar Al Assad, mas, o
que não quer correr o risco é de que ocorra um revolução que leve a cabo os
princípios socialistas na região, o que poderia ser o estopim para novos
levantes não só no mundo árabe como também na Europa em crise. O recente
anúncio da União Europeia de quebrar o embargo de envio de armas aos rebeldes sírios
não passa de encenação para tentar uma melhor negociação com o regime sírio,
principalmente, em função do envio dos mísseis russos.
É por isso que se torna crucial cercar
de solidariedade ativa a revolução síria neste momento. Cercada pelo arsenal de
Assad, pelo Hezbollah e sofrendo bombardeios de Israel os revolucionários
sírios necessitam de apoio internacional. Uma das principais demonstrações de
organização dos trabalhadores e estudantes sírios está na fundação da UEL-S (União
dos Estudantes Livres – Sírios) que tem se colocado ao lado da revolução e
questionado o papel nefasto da UNE-S (União Nacional dos Estudantes – Sírios)
que tem atuado como milícia de Assad, prendendo e torturando estudantes
opositores nas universidades sírias. Um papel importante que os estudantes da
UEL-S cumprem neste momento é a participação no 2.º Congresso Nacional da ANEL
que acontece em Juiz de Fora/MG e que reafirma a solidariedade com a revolução
síria.
É neste marco que o PSTU Campos/RJ
reafirma este 31 de maio com sua solidariedade a revolução síria, trazendo
neste breve texto um pouco da realidade do que ocorre no Oriente Médio e na Síria
em particular.
A
LIT-QI e as revoluções árabes
É notório que as revoluções no mundo
árabe estão interligadas, e fazem parte do mesmo processo revolucionário, de
acordo com a LIT-QI, é parte integrante da revolução Mundial. O imperialismo
tenta fragmentar os conflitos na região. As nações imperialistas intervêm na
região com um discurso cínico de defesa dos direitos humanos e da liberdade
democrática, quando sabemos que a intervenção na região está pautada puramente
em interesses econômicos. Dentro dessa perspectiva, a tarefa urgente da LIT-QI
é a de construir uma direção política revolucionária e internacionalista,
conduzindo cada confronto contra o imperialismo e a favor dos trabalhadores,
buscando consolidar um governo dos trabalhadores pra os trabalhadores. Nesse
viés, o programa e as tarefas revolucionárias devem estar concentradas na queda
desses regimes e a conquista de liberdades democráticas. Nos países onde os
governos ditatoriais foram derrubados, é urgente a reorganização do movimento
operário e de massas, pautadas num programa classista na perspectiva
socialista, enfrentando os governos e regimes democrático-burgueses. Por fim, é
necessário um programa que avance para além das quedas das ditaduras. Um
programa que puna os déspotas pelos graves crimes e abusos cometidos;
fundamentado na consolidação de uma Assembleia Constituinte coordenada por
operários, camponeses e populares, responsável por discutir e anular todos os
acordos comerciais e petrolíferos, que beneficiam os imperialistas e as
Corporações, o não pagamento da absurda dívida externa, que é contraída em nome
do grande Capital e dos lucros das multinacionais.
Dessa forma, é necessário que as
riquezas desses países estejam a serviço da população. Na busca de um fortalecimento
diante das lutas contra o imperialismo, os novos governos e Estados operários
deverão se unir em uma Federação de Repúblicas Socialistas Árabes.
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